Rolar a quedas, sozinho, às quedas, perdendo os dentes,
e na boca a língua feito geleia em grossas gotas de sangue,
gotas dos rolamentos em quedas d'água,
como uma espada em gotas, como um vidro desolador no rio.
Bater no eixo da simetria as costuras da colagem da alma,
quebrando, abandonando as coisas em imersão no escuro.
É apenas um fôlego perdido, porém mais úmido do que o chorar,
um líquido, tipo suor, um óleo sem nome.
Movimentar brusco, tomando espaçamento nas quedas d'água,
em lentas gotas, rumando para o mar de um oceano seco,
sem águas em suas ondas, nem peixes nem sereias,
nem pescadores, um sequer, somente ilhas naufragando.
Ver o extenso verão a sacudir para fora do celeiro
vinícolas, cigarras, populações sem estímulos...
Quartos onde meninas dormem com as mãos sobre seus corações,
sonhando com bandidos, com o fogo que adorna seus corpos.
Pintar navios e árvores sem medulas, com seus mastros e galhos
eriçados como gatos raivosos...
Tintas de sangue, de adagas e meias
sobre o cabelo em chamas de um homem.
Gritar entre as camas de um corredor onde dormem as virgens,
sem seus cobertores, com seus órgãos à mostra, neste hotel,
onde todos os sonhos são furtivos,
onde muitos ali passam seus últimos dias.
Ouvir o que há por detrás do som:
ruídos vermelhos dos ossos rompendo a carne
e pernas amarelas com seus picos,
chegando junto atrozmente com suas pálpebras.
Disparar beijos entre soluços e suspiros,
escutando o mar com a metade da alma,
e a outra metade deitada no chão,
e as duas metades, juntas, olhando o mundo.
Fechar os olhos e cobrir meu coração por completo,
vendo a água cair em sua surdez, em gotas surdas,
como uma cachoeira de esperma e águas-vivas,
em uma curva que nos leva, a prazo, para o fim do arco-íris.
Acreis, 16/05/2010 - Volta Redonda/RJ