Caminhava lentamente pela Rua do Rosário,
Parando em uma livraria,
Quando vi você passar com ousadia e ironia
Estampadas no rosto.
Uma pomba pousou no chão sob à luz.
O tempo estava nublado e ameaçava chover.
Gente bonita saía da igreja.
Também você, excelente viúva-negra,
Com seu cabelo de cerveja dourada.
E eu, com meu charme patético,
Não via nenhuma razão para qualquer comparação estranha.
Isso me fez lembrar de um contraste
De uma linda menina sob o tecido
Cor-de-rosa em seu caixão.
Não sou muito chegado às rimas intensas.
Para mim basta uma linha com um pouco de amor.
Você ainda fingia uma indiferença cega,
Mas me provocava através de seus óculos escuros
Como se não estivesse me vendo.
Fiquei avaliando o seu luxo,
A sua elegância no andar e autoconfiança.
Respeitei a distância entre você, obedientemente.
Não havia dúvida de que você precisava de mim para segui-la.
É sempre triste pensar na distância.
Eu ando na Rua do Rosário atrás de você.
Você sabe da distância que há entre nós,
Mas não é tanto assim...
Talvez a mesma que há entre o seu calcanhar
E o salto do seu sapato alto e o chão.
E você, que nem sequer quer parar para se aquecer?
Na rua havia algumas poças d'água,
No que, ao se desviar delas,
Sempre um vento levantava sua saia
E me deixava ver a sua anágua, de cor roxa e leve.
Pensando bem, a brisa também levantou a sua anágua,
E eu descubri enfim as curvas encantadoras de suas coxas.
Mas renuncio a minha abordagem outra cada vez!
De repente, bateu em meu peito uma boa sensação.
É uma linha de loucura que um dia você me prometeu...
Ficando amigo dos ricos você teria em mim alguém nobre...
Não, eu não valho nada para mim!
Até o frio do meu corpo estava brilhando em seu perfil.
Ah, paixão maldita, que a tão poucos ataca!
Vi-me então perdido no meio da multidão.
E você caminhava loira com sua impunidade.
Eu creio que um dia ainda irei lhe falar,
E talvez você não acreditasse em mim:
Rimei a sua beleza com a imagem da natureza!
-------------Acreis-----------------
, 15/12/2013 - Sta Cruz/RJ - Chez moi.
P/ Iolanda, ma chérie