por mais decente a vontade,
não me conceituaria.
Tentasse ser expressivo,
ligeiramente loquaz,
cairia em escândalo.
Não teria a última palavra,
nem estilo,
por mais literato que fosse.
Te amo sem sátira,
solícito, mas com aspecto
de quem vive dando cambalhotas.
Sou escrivinhador provinciano,
às vezes zangado com a vida,
porém desdenhosamente eufórico
com ela.
Faço tempestades em papéis,
confeitados com improvisos incorrigíveis.
Fico espantado comigo,
pela impulsão de querer te amar
subitamente.
Meu alívio é de ter no bolso
uma ousadia desesperada,
versos em forma de franjas
que enfeitam teus travesseiros.
Tu és fogosa,
sentada na poltrona
de frente p'ra mim,
indizivelmente bela,
sempre com a sensação
de que estás nua,
mas na verdade vestida
ricamente de palavras.
Te amar não é tolice minha.
Te amar é ter esse riso diferente.
No assoalho em que deitamos,
ou no sofá onde dormimos,
nosso sono é sempre febril.
Não há prognóstico para o nosso amor.
Te amar é tempestade,
sem princípio nem fim,
somente minúcias íntimas.
Nossa vitória é secreta
e nosso amor é isolamento...
É inédito te amar,
a forma é estranha,
a sensação é espantosa.
O nosso amor é cruel,
sem contradições,
celebrado a cada beijo.
Dos pés à cabeça
nos damos,
na intenção de guardar
em estojos
os nossos olhos dos passeantes.
Decididamente te amo,
cercado por ilhas e montanhas,
pelos arquejantes abismos
do nosso espetáculo de incertezas.
Antigamente, quando eu não te amava,
era surpreendido por luminosas
e esplêndidas avenidas de enredos,
bruscamente sem horizontes,
vestido eu de molambos
e com os cabelos em gaforina...
E hoje eu te amo,
e tudo se ilumina,
tudo se torna casaco
nas noites de intenso frio
em que encarcerar-te-ei.
Acreis,24/04/2011-Sta Cruz
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