quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Palavra Cruel


Anulo qualquer pensamento indigno
e persigo a  sobrevivência em lembretes.
Faz um bocado de tempo
que uma palavra cruel
não penetra as tintas
da serenidade do poema.
Escrevo, então, sobre
o que for que passe :
impasse ou deslumbramento,
exceto a possibilidade da dor
em detrimento do amor.
Rimo então chuva com luva,
imediatamente, intensamente.
Resisto até não poder mais
à sua olhadela cravada
no meu pescoço...
- Não faça o que digo
nem fale o que ouço...
Esparramado na cama,
inerte, em flerte,
agarrado na sua cintura,
impura,
odiando o silêncio
que sua boca guardava,
o que não falava.
Não há coerência
nem paciência,
e o que há não paira
para ficar,
passa de relance
num lance,
lá longe,
na mente,
longamente.

Acreis, Sta Cruz/RJ
26/05/2011

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tiro o Meu Chapéu para o Amor



Será tísica o meu amor?
À noite, quando vamos deitar,
amamo-nos ardentemente.
Pela manhã ela acorda com febre.
Sei que já teve lepra quando pequena...
Mas hoje, sendo seu marido, só a vejo no quarto,
sozinha, jogando dominó.
Quando vamos à sala,
seu ar é de quem quer morrer;
em seu corpo aparecem cataporas, acho.
Quando vamos à chácara,
falamos mais palavras de amor,
valiosos momentos,
sinto-me hóspede de seu corpo.
As pedras do dominó novamente
a envolvem,
e meu corpo parece tomado por formigueiro.
Credo!
Na volta para casa tento mostrar-me disposto,
mas o meu amor tem o ar de assustada.
Enquanto ela jazia em sua cadeira, na varanda,
eu passava silenciosamente a seu lado
e lhe dava dois beijos...
De forma violenta a pobre criatura
ficava apreensiva,tão triste,
que de longe ouvia-se seus suspiros, seu choro.
Tiro meu chapéu para o amor,
que tem outra opinião que não a minha.
Inconveniente, deixo que ela perceba a minha fraqueza.
Já cansei de arranjar ânimos para essa pobre moça.
Eu, como negociante que sou,
não consigo deixá-la sossegada.
Desperto todos os seus desejos:
- Precisa de mais alguma coisa, minha querida?
Ela me faz muita falta...
Tivesse eu mais bondade,
consentiria a mim mesmo
a dividir com ela a propriedade do meu coração.
Tanto tempo bom passamos juntos,
andando pelo mesmo caminho,
e quando ela se sentia abandonada,
lá estava eu,
e de quando em quando a acordava,
enchendo-a de beijos,
e nosso quarto sempre tinha cheiro da alfazema queimada,
enfeitado com flores de maracujá.
Era mesmo esquisito o meu amor:
cantarolava para ela, benzia sua cabeça,
não deixava que nada a afetasse,
só lhe dava notícias boas...
Não a queria enferma...
Chorava escondido quando a via alegre...
Mas ela se foi, bruscamente...
Por isso essa minha bebedeira,
esse meu espanto com a vida...
Ébrio, procuro acudi-la, em vão...
Coisas que a vida me fez:
tornou-me incapacitado,
alma despejada do corpo,
e hoje precisando de remédios
de três em três horas.

Acreis, 29/05/2011
Santa Cruz/RJ

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dona das Coisas


 Você é a dona das coisas
De tudo que existe
Das ondas do mar
Da luz das estrelas
Dona de mim
Corpo e alma
Em toda a sua plenitude
Você é a dona das coisas mais fugidias
Daquelas que ninguém vê ou acredita
Dos meus pensamentos
Das minhas vontades
Das minhas iras e tormentos
Do meu sono e da minha vigília
Você é dona de mim
completamente.

Acreis., p/ Iolanda, em 20/10/2010, às 8h50 -Madureira/RJ

domingo, 28 de outubro de 2012

Por Motivo Particular


Ela se banha em águas quietas
e diz que é outra coisa...
Põe as chinelas e passa
a conversar com sua nova amiga.
Sua sensação é de piedade,
que causa esperança e arrepios.
Uma canoa vai passando,
carregando café,
e ela olha para sua amiga,
como se a amasse de coração,
assim se explica.
De repente, fica tesa e séria,
e sem resistência dá o último golo
em seu refresco de guaraná.
Há algum tempo que ela esta sentada ali,
na beira do rio, com sua amiga.
Levanta-se, dá alguns passos
e olha para longe.
Parece que vê coisas,
pois seu olhar é inteiramente feliz.
Ensaia requebros, sem explicação,
e dá gosto ver seus gestos,
e seus olhos viçosos
são convites para mim,
que talvez habite um trechozinho
do seu romance.
De forma acanhada, ela lê seus jornais,
parecendo que voa devagar,
não completamente perdida,
é como se estivesse dormindo
em seu quarto.
Por motivo particular,
por princípio de sua vida,
não mostra gestos femininos,
mas sim sorri...
- Ri, minha querida!
Entre no meu delírio,
faça parte do meu espelho,
tire de uma vez por toda
esse meu sorriso pálido e tristonho!
Ela se espanta
ao me ver sentado na cama,
querendo ouvir outras vezes
estórias de suas vidas...
Depois de muitos passos,
eis que chega o dia
da grande festa.
Um pouco distante ela está...
Mas eu tenho fome,
muita fome...
Coloco uma flor em minha cabeça,
a alma nos olhos,
e mostro desejo de entendê-la,
mas não digo nada,
quero apenas o prazer da vida.
Não há morte. Há Vida.
Transponho montanhas
para encontrar a alegria da vitória...
Finalmente ela me corresponde,
e me diz que não é nada,
que tudo é imagem de toda sorte.
Chega o fim do meu sublime sonho.
Ela ou aquela  outra pessoa   
se aproxima e me diz:             
- A hora não é apropriada,
vá sossegado!

Acreis,30 05 2011
Santa Cruz,R J

Em Algum Lugar Distante



Seus suspiros parecem percorrer a linha que cruza meu peito.
Seus olhos examinam as cicatrizes de minha alma...
E eu nem sei o porquê.
Tudo me parece confuso:
Seus olhos ardentes,
As suas palavras
Que tanto me machucam...
"A minha voz é divergente" foi tudo que você me disse.
Você pensa tenuemente formando palavras,
Mantendo alguma distância em seu tom de voz,
Que é intenso.
Tenho que tomar uma decisão
Sobre o que você me havia sussurrado,
Palavra por palavra.
Mas tudo fica calmo de repente,
A sua última palavra foi um rosnado,
Que eu me lembre.
A sua sibilação suave foi sendo levada para longe de mim.
Apenas vejo seu rosto zangado,
De uma expressão selvagem.
Mas eu não via nada...
Fiquei olhando enquanto a luz girava.
Em algum lugar distante a luz dos seus olhos cobrem meus olhos,
Que se perdem na escuridão.

Acreis, Sta Cruz, 31/05/2011

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Questão de Gosto


A inesperada visitante adentra atenta,
mostrando-se estupefata,
porém lisonjeira,
com projetos novos,
para se prevenir.
De início fez-se supérflua,
mas seu preconceito
a deixava indefesa.
Não há acusação suscetível
de arrebatamento.
O que ela nutria, posso garantir,
era arriscar seu desgosto odioso,
para engazopar com astúcia
qualquer  incidente que fosse.
Chegou interrompendo todas
as consequências,
com formalidades preenchidas
em copiosos exames.
Inquieta, oscilava, contribuindo
para sua própria desgraça.
Havia vestígios de seu cinismo,
de sua infâmia,
quando tentava arrebatar,
mascateando cartas providenciais.
Atrelei o essencial
em nossa conversação,
levando sempre em consideração
 que gente de sua espécie,
 se faz de noiva distraída
com o casamento.
Expunha suas propriedades
em circunstâncias de escravidão.
Não enxergava o próprio opróbrio
quando da sua leitura pública,
não levando em conta toda a mocidade
que a ouvia, nem de opiniões queria saber.
Logo censurada, sem espanto mostrou seu caráter,
embora insultada em silêncio.
Deixou-se ser interrogada, e,
fingindo bonomia,
ficava pensativa,
sobretudo para conquistar
boas graças da multidão que ali estava.
Sua estranha e sombria opinião
sobre questões alheias
a fazia adotar personagens que,
naturalmente, denominava-os
segundo seus objetivos.
A visitante deambulava
sua decência, sua reputação,
para emancipar, sem poupar,
a sua força de fertilizadora
daquela figura fraca que na verdade era.
Vagava edificada para que, de fato,
vagueando sua anatomia mística,
subsistisse em trapaças,
porém suas dívidas, culpas,
que não podia esconder,
teria posto em acordo na tentativa de liberar,
mediante paga em tesouros,
todos os títulos da precaução.
Mostrou bilhetes sem assinaturas,
trancafiando contradições, ao se ver abandonada,
e  que sua pessoa incomodava,
que o amanhecer no estrangeiro era certo.
A nostalgia de seus gestos acusava
a já prevista extradição,
consentida por todos que eram livres de vontade,
mas que brevemente a condenariam,
numa importante ocasião de confiança,
para exprimir o verdadeiro proprietário
daquela província, que era eu,
que não receava, mesmo fatigado
pelo estudo das aparições
que comumente, por acaso,
mostravam-se indefiníveis,
seria o fantasma da madrugada,
hóspede das estações,
proferindo prenúncios,
comovido pela surpresa de todos
que bruscamente me anunciariam.

Acreis, Pedra de Guaratiba/RJ
28/05/2011

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

TEUS OLHOS





Vejo teus olhos me olharem,
pilhas e mais pilhas deles chegando.
Sinto teus olhos em volta de mim,
e fico feliz de saber o porquê.
Queria mais tempo, o tempo que fosse p'ra sempre,
e fazer o que quero fazer.
Eu conto os minutos através dos teus olhos
e penso até que tivesse morrido...
A minha história eu nunca contei,
por isso eu vivo escondido nas neves,
esperando uma chance para correr.
Vou mais profundo do que eu queria,
além das quatro linhas da tua mão,
e descubro então que estou envolvido
a ponto de não te dizer a verdade,
e vejo meu rosto em outro reflexo,
como eu não jamais tinha visto.
Isso eu já percebi,
o jeito que tu olhas p'ra mim.
Teus olhos chegando avermelhados,
felizes e tristes e com aflição.
Tudo que tenho dito pesou um bocado
e o que omiti venceu a batalha,
a tua maneira de ser,
o teu jeito de me abraçar,
não me é tão bom o quanto eu pensava.
Quero saber mais sobre as flores
que tu levas dentro dos olhos,
teus olhos brilhantes,
teus olhos de sol e estrelas.
Teus olhos passarinhos.
Teus olhos que olham p'ra mim.



Acreis, 03/12/2010, Madureira/RJ
Para meu amor, Iolanda.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Chuva de Ouro


Meu amor, deite seus olhos em mim,
deixe seus olhos em mim,
visto que... visto que...
sem os seus olhos
eu não enxergo mais!
Porque... porque...
a paixão me cegou!
Somente do seu formoso corpo
eu sinto o cheiro
e da sua boca louvores ouço.
Conheço os seus sinais...
Eu já pressinto os seus sinais!
É o que dá esperanças ao meu coração,
a meus dedos que lhe seguram
e a minha boca que beija a sua.
Não vejo seu lindo retrato,
o lindo retrato seu,
que é cópia da natureza,
que é cópia sua!
A escuridão, por fim, não me venceu
e faço chover chuva de ouro!
O amor toma várias formas
que o próprio Deus
torna o nosso amor
igual aos dos videntes.

Acreis, 07/06/2011, Madureira/RJ

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Noites e Imagens



Escrevo este bilhete com tanta ansiedade
que demasiada ternura enche a minha mente.
As batidas do meu coração são acompanhadas
por uma sensação de querer
aquilo que não fui e passei a ser.

Passo a ser o que sou através de seus lábios,
embora meu coração não bata rápido o bastante
para que baste.

Tenho sonhado com escuro,
e por estar tão perto e tão quente ,
acordo suando quase toda água do corpo.

O ar fresco parece o paraíso,
 a mochila fica leve
e um gosto de chocolate com cachaça
escapa de minha boca.

Olho o chão quase tropeçando
mas não deixo a esperança  fechada
 para que destrancar não seja difícil.

Ainda preciso falar com você...
é que estou sozinho faz muito tempo
e  não me surpreende tamanha estupidez
por tê-la beijado  demasiadamente.

Há um gosto de terra em minha boca,
talves seja por isso,
mas não quero que nada me denuncie...

Prometa só uma coisa:
fique aí parada 
que chego num instantinho...
Minhas mãos serão suaves,
meus beijos serão suaves e quentes,
mesmo nas noites frias de algum deserto.

Acreis, 09/06/2011, Madureiras/RJ

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ESTRELA



Eu amo tudo sobre você.
Eu amo a sua luz,
A intensidade dela.
Eu amo a sua sinceridade.
Você pode cuidar de mim
Do que eu jamais poderia.

Uma estrela estava morrendo
E eu nada podia fazer...
Mas a noite estava perfeita!
Você tirou um feixe de luz dos seus olhos
E  deu para ela colocá-lo nos dela.

Acreis, 05/12/2010  Sta Cruz/RJ
Para Iolanda, avec amour.

sábado, 20 de outubro de 2012

AMOR?


Seus lábios lembram seios que pensam em mim,
Você me beijou murmurando. 
O que falamos em segredo você espalmou na concha das suas mãos.
O seu coração batia mais forte do lado da cama onde dormia, naquele
momento da separação.
Seu corpo calava o que os seus olhos falavam profundamente.
Quando eu assumia o controle seu corpo murmurava o descontrole.
Não há limites, o amor continua desconhecido.
O sorriso do seu rosto se  levanta e aparece,
tipo coisa que eu nunca tinha experimentado em todas as posições que tentamos.
Você despertou em mim  todos os prazeres
Com sua voz mais suave e branda,
Ouvindo o seu leve suspiro,
Daquilo que preciso tentar mais uma vez.
Ouço sua olhadela em minha direção,
E durmo profundamente .
Há sonhos através de seu olhos, através dos seus lábios,
Sob a proteção da escuridão.
Um dia você pode estar por aqui , e talvez venha a me amar,
Embora me olhando por entre as pestanas .
Eu  juro ! Antes que eu te assumisse
Tu fugirias da nossa existência ,
De tal forma que você me amasse raivosamente, declarando-se com clareza ,
Com mais força que antes,
Fazendo-me morder os seus calcanhares , 
Nos derradeiros momentos,
Para deixar bem claro o meu amor,
E sentir na pele a sua respiração,
Supondo aquilo que nunca tinha vivido.
Agora forço com mais emoção do que antes a metade do que estava em tu brotando,
E sinto então o gosto da sua boca em flor,
Levemente selvagem,
Veementemente selvagem , no sentido mais provável ,
Com mais força que antes do que eu gostava mais.

acreis,25/12/2010,santa cruz,rj

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

No Bom Sentido das Palavras




Solta, de enfiada, suas frases sonoras e ocas de sentido!
Faz-me compreender melhor seus diálogos de constelações híbridas.
Eu, no seu caso, não falava nem mais um dia!
Mas você, com seu dicionário latino, obriga-me a ouvir suas estranhezas de doida.
Apoquenta-me de todas as maneiras, em todos os gêneros literários.
Ponha nos meus sentidos  sua pasmaceira voluptuosa!
Vivo já sem imagem e resta-me uma recordação enfandonha e constrangedora;
ao mais, estrangulam-me tristes reminiscências de travessuras linguísticas.
Mexe comigo! Faz-me peguntas maliciosas!
Só para ver o que meu demônio responderia...
De resto, ninguém é melhor que você para me tirar palavras da ponta da língua!
Assim, você foi se tornando amiga das frases fraudadoras,
vivendo em minha vida dando risadas, com a boca cheia de farinha e açúcar!

Acreis, 22/12/2010, Pedra de Guaratiba/RJ

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

É CERTO


Eu não sou aquele mesmo,
Sou outro novo agora;
E vejo aquela Deusa - Iolanda -
Pelos poetas nomeada,
Entre todas as Deusas,
A Deusa mais formosa.

Castanhos e finos cabelos,

A boca risonha, e breve,
O rosto redondo e alegre,
Mãos de sábias plumas,
Corpo qu'eu aspirava,
Dona única do meu Império.

Eu não sou aquele outro,

Sou aquele mesmo agora;
É certo sim, é certo,
Que a cubro de cuidados,
De zelos, de gentilezas,
E nunca é noite,

O tempo todo é claro.

E Ela me prende em suas algemas
- seus abraços -
E deixo de ser eu para ser outro,
Preso, cativo, entregue,
Nos seus suaves braços.

Acreis, 08/07/2011, Madureira/RJ
Para Iolanda, meu amor.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vi Você


Vi você correndo até a beira do mar
com ar triste e vexado.
Não querendo acreditar no que meus olhos viam;
fui até você e a apertei entre meus braços
e colei furiosamente minha boca
sobre seu rosto banhado de lágrimas.
Acredite: gosto mais de você do que de tudo
que pude viver .
Não consigo parar de pensar em você
e fico pensando em versos durante todo o dia!
Lembro sempre da aventura, do banho de mar e da alegria.
Se eu não fosse até você
talvez tivesse me afogado no mar ou em suas lágrimas.
Já quis matar-me uma vez
procurando ,em vão, uma arma.
Se eu não tivesse encontrado você de novo
ter-me-ia atirado ao fundo de um poço.
Então quero lhe convencer que a morte
não está longe daquele que a procura...
mas é o espetáculo da vida que quero lhe ofertar.

Acreis, 23/12/2010, Madureira/RJ

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Tarde Quente


Foi numa tarde quente
que tivemos a sorte
de ficarmos à sombra de uma árvore,
embaixo de uma amendoeira.
A minha vontade era de deslizar
como um gato,
e, levando você,
sumir sem ser visto.
Peguei a mania de monologar,
simples jogo da minha imaginação,
uma brincadeira,
uma fantasia que me diverte.
De vez em quando resmungo palavras indistintas.
Tenho planos arriscados,
coisas de nada, distração à toa
 coisas que me interessam.
Não vou longe.
É ilusória minha ousadia.
Em ruas estreitas e escuras
passeiam prostitutas disfarçadas.
Penso sem querer que sou ex-soldado alemão
e lhe pego no colo,
sentindo seus nervos sensibilíssimos.
E você me olha com seus olhos estranhos,
querendo obter de mim juros de mais de mês,
de um amor que herdei dentro em pouco.

Acreis,28/12/2010,Madureira/R J

domingo, 14 de outubro de 2012

Súbita Pressão


Você vem a mim
fraca de gratidão
fecha os olhos e respira fundo
esquecendo a própria existência
com as palmas das mãos em concha
e me diz:
Hoje sou mais paciente
só confio nas coisas que compreendo
minhas lágrimas não se acumulam
mais em meus olhos.
Sou mais paciente comigo
você sabe que eu não deixo nada te machucar
você sabe que eu posso fazer isso.
Nenhuma alma tem uma cicatriz como a minha
nenhum coração amou tanto outro coração
depois que os nossos se estreitaram.

Acreis, 02/09/2011, Sta Cruz/RJ

sábado, 13 de outubro de 2012

Capital do Amor


Seus olhos compridos me fazem presa de súbita emoção.
Seus olhos quando olham em derredor de mim
e verificam a porta aberta d'alma,
brilham mais,
aproximam-se mais.
À queima-roupa, fosse qual fosse o meu gesto,
você chega a mim,
oferece-me um copo de cerveja,
uma torrada,
e me diz que é o bastante
para consolidar o espírito.
O meu pensamento então
se desanuvia
e a vontade de lhe beijar
retorna.
Não importa em que mundo,
mas todos nós precisamos de alguém
que tenha pena de nós.
Ah! Se você não tivesse pena de mim...
Toda a minha vontade se realizou,
e eu reincido,
bebendo suas meias,
bebendo sua mantilha de lã de cabra,
pois meu feitio é assim,
você fez de mim o que sou,
o homem que sou...
Desconfio quando percebo
na sua fisionomia
uma expressão de tristeza.
Tive essa impressão
assim que você
sentou no meu colo
e me beijou...
E eis como,
após quase uma vida
de perenigrações imagináveis,
paramos nessa
magnífica capital do nosso amor!



Acreis,  29/12/2010, Sta Cruz/RJ

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sim. Para Mim, Importa.



É realmente por mim que você sente o que sente?
Você não sabe mentir:
Sua testa se enche de frisos
e suas sobrancelhas se juntam.
Você age como se eu não soubesse
quem é você.
Não é só o seu rosto,
mas seu corpo todo...
Não é o que você diz,
é o tom da sua voz...
Eu sempre lhe pedi que você
fosse equivalente em qualquer lugar,
em qualquer situação, quando estivesse comigo.
Nenhum de nós planejou o nosso futuro.
Eu não sei.
Quando você me beija
é a mim que beija?
Você já tentou me explicar.
Meio sorriu, meio fez cara feia.
Por que você acha que eu... nada percebo?
Por quê?
Será porque, às vezes, você me pega emotivo demais?
Não sei por quê... ou sei o porquê?
Não, não diga mais nada,
pois a porta vai estar sempre trancada entre nós.

 Acreis, 16/10/2011, Sta Cruz/RJ




Nós Dois


Vai ser legal  !
Nós dois...
Rindo até da dor, não é?
Vai ser exatamente como planejamos,
Mas vamos aceitar qualquer palpite.
Quem sabe surja uma nova ideia?
Nós dois...
Não fique mais triste,
Você sabe que eu amo você também.
Não hesite.
O que você me perguntar
Posso responder imediatamente.
Você quer que eu viva com você?
Não seja boba, vamos tirar a semana de folga
E ir para o campo,
Vai ser bom.
Nós dois...
Vamos andar à noite de lanternas,
Vendo o que há atrás das sombras,
Os movimentos fugazes
Que existem atrás delas.
Jamais iremos nos perdoar
Se deixarmos fugir esse momento,
Onde tudo será brincadeira, prazer,
Sol, noite, vento, flor...
E nós dois.

Acreis, Sta Cruz/RJ, 16/10/2011

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cicerone do bem


Não tenho receio  de defender a minha proposta.
Tomo ares de cicerone do bem
e vou em frente, andando com ímpeto!
Então, de súbito te pergunto:
-Queres jantar, bem?
E tu, com olhos de criança, respondes:
-Quero jantar no Hotel das Princesas!
Coitadinda, penso comigo,
tão moça e tão linda...
Vestida com pano de chita,
ar suplicantemente risonho
e cheio de miséria,
rindo com dentes muito brancos,
que se destacam vivamente
da cor morena do teu rosto.
No Rio de Janeiro se especula muito.
"Então, papai! papaizinho bonito! uma esmolinha, sim?"
Não vou falar dos fatos horrorosos de cinismo e nem da gatunagem...
Pois ainda guardo dinheiro na algibeira das calças!
Não posso te ver assim, 
atirando-se à rua...
E eu não sou daqueles
que só querem te desfrutar.
Digo-te isto, baixinho, no teu ouvido,
mas era para que todos escutassem.
Mas, enfim, o prazer!
Devoro-te com apetite,
abraçando-te
e fazendo a nossa vida ser mais feliz!
Acreis, 30/12/2010, Sta Cruz (chez moi)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Prainha/Aquiraz



Prainha, Distrito do Ceará
perto de Fortaleza
é lá que eu vou viver
com certeza.
Prainha
com suas mulheres gentis
é lá que eu vou viver feliz
Prainha é dentro de Aquiraz
que engloba o alfabeto
onde o mar é aberto
e as mulheres também.
você entra numa igreja
e o padre já diz amém.
Aquiraz
o que você não fez na vida
lá você faz.
Foi num bar da Prainha
que eu vi
 Zé Ramalho
num canto da mesa
bebendo cachaça
e jogando baralho.
E eu então perguntei:
Zé, que você faz aqui?
E ele disse:
Vim procurar mulher bonita
e comer siri...

Acreis, 03/11/2011
Aquiraz/Prainha-Ceará

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Seu Beijo


Hoje eu vou ficar e
m casa
haja o que houver
mas hoje eu vou ficar em casa
vou ligar para você
que virá
vestida de estudante
com as mãos abertas
tão aflita
e dirá assim:
"é hoje, mereço um beijo?
preciso de dinheiro amanhã..."
então te seguro pela nuca
e você me beija
demoradamente
e depois do silêncio da admiração
ficaremos assombrados
e beberemos canjirão
e leremos jornal
e dormiremos pelados.

Acreis, Sta Cruz/RJ
P/Iolanda, no Dia do Beijo
13/04/2011
"Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido."
-- Jean Rostand

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DEIXA

HÁ TEMPO NÃO COMO AIPIM
COM BACALHAU
NEM CHUVA NEM SOL

HÁ TEMPO QUE VOCÊ NÃO ME BEIJA
MAS DEIXA, DEIXA P'RA LÁ

VEM P'RA CÁ, FICA COMIGO
EU BEIJO SUA TESTA, SEU UMBIGO
MAS DEIXA P'RA LÁ, DEIXA

ACHO QUE ANDO BEBENDO DEMAIS
ESCREVENDO DEMAIS
E O TEMPO É CURTO
E A VIDA COMPRIDA DEMAIS
CUMPRIDA DEMAIS

ACREIS, 06/11/2011, STA CRUZ/RJ

domingo, 7 de outubro de 2012

Bordados


Sou uma mãe espantada
Sou pai também por instinto e aspereza.
Fiquei fora de mim durante uns tempos
E hoje sou a filha
Que traz a felicidade para o lar.
Bato palmas com apenas uma mão
E canto com a voz fria
De um casal formado por uma pessoa,
Como se fosse a esposa
Do meu terceiro filho.
Todos os homens
E todas as mulheres poderão entender-se
Quando pensarmos apenas em nós,
Com as mão unidas,
Deitados na mesma cama.
Sou um rapaz de gestos vagos,
De mãos esguias.
Sou filha única de pai solteiro,
Supondo que os seres masculinos são iguais.
Meu amor, eu voltei!
Voltei porque não convém
Que a esposa fique sem entender
O que faz o marido
Quando vai para longe.
Volte também, meu amor!
Volte para o lar do seu marido,
Que hoje sabe cozinhar
E fazer bordados.

Acreis,11/11/11,Sta Cruz/RJ
p/ Iolanda, avec amour

sábado, 6 de outubro de 2012

O Pão e o Sal

Acordei um pouco mais tarde hoje,
Sentindo-me triste e irritado,
Como se fosse uma tartaruga
escondida em seu casco.

E vem você à janela
E peço que me compre um pão branco
E que me arranjasse também
Um pouco de manteiga, da mais barata.

E você logo retorna à janela,
Trazendo o pão branco e a manteiga,
Dizendo: a manteiga é de ontem,
Porém está muito boa!

E você adentra meu quarto
Como uma camponesa excessivamente loquaz.
E se vai embora
Meu aspecto tenebroso.

Naquele momento, a emoção que oprimia meu peito
Agora o oprime por outro motivo.
Confesso-lhe que tinha sofrido bastante,
A ponto de muitas vezes perder noites de sono.

Decido então prestar homenagens a Baco:
Evoé, Baco!
E lhe peço: venha para cá,
Com seus trens e suas roupas.

Cai então uma chuva diluviana naquele momento,
Enquanto ainda sangra o meu coração.
Penso comigo: corta-se o casaco de acordo com o pano que se tem!
E você não dorme
E  amanhece comigo.

Acreis, 10/02/2011, Santa Cruz/RJ

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Todos os amores



O Amor tem febre,
que chega a molhar minha roupa
com águas de outros amores.
Descobre-se o amor através do carinho,
às vezes dos dissabores.
Flutua ao toque do que claramente
é desafiador,
no conflito das coisas,
longe das resistências sacrificadas,
desfolhadas, vazias,
para traumatizar devaneios
de uma lucidez sem lamentos.
Recorda o silêncio resplandecente
de uma floresta,
em linguagem de abismo,
sem capacidade de escadas.
Monta com argila e rancores
as vozes suaves da fria madrugada arrepiada,
procurando o perfume que ela semeia,
a carícia das chuvas,
os beijos que viajam no pensamento.
A convivência com a flor do campo
deixa distante o delírio,
deixa no chão do mar as palavras sem lábios,
tal qual pastora em agonia,
andando sozinha no escuro.
Todas as horas são vazias,
todos os instantes também,
assim como os delírios.
O amor é feito concha graciosa,
adornando os teclados perdidos dos planetas,
abrindo janelas, cores, outros amores,
conchinhas, existindo nos pássaros,
no calor, no impossível,
no cheiro das estrelas, no beijo delas.
o amor cativa com suavidade,
com sangue do coração, perfumado,
a todo momento sonhando,
estremecendo nos abraços,
nos lapsos de todos os romances.

Acreis, Sta Cruz/RJ
04/04/2011

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Carinhosamente

Meu bem, meu benzinho, não me batas à toa,
pois ainda quero ouvir tua voz aguda
cantar canções de embriaguez.
Ah, bonitinha,
queres que eu me embriague também?
Tu, com a blusa desabotoada,
adentra meu quarto,
e me chamas de príncipe generoso,
porque sabes que eu sempre passo dos limites.
Ontem te encontrei perdida,
no meio dos oceanos infinitos,
querendo apenas viver, viver somente.
Acabei por achar o que procurava, 
e me vi jovem, tocador de realejo,
moendo uma melodia sentimental;
e tu, também jovem de quinze anos,
vestida como se fosses uma moça,
cantando com voz fanhosa,
trajando luvas, chapéu de palha,
e uma mantilha vermelha.
Gosto de te ouvir cantar,
principalmente nesta noite fria,
 triste e úmida noite de outuno.

Acreis, 25/02/2011, Madureira/RJ

seus sonhos

Todas as vezes que tento invadir os seus sonhos
Tenho a impressão que ficarei neles para sempre.
Assim, nada é mais seguro do que acordar!

Meus atos se baseiam na prudência (mentira!).
Mas, a Deusa do Sono me beija longamente
E me leva, leve, por uma taverna,
Onde fico a contemplar não sei o quê.

E então vem você, nua, vestida de promessas de amor,
Esplendidamente linda!

Meus olhos, trapaceiros, não têm outra razão a não ser embebedar-se!

Três vezes quis fugir e acordar
E três vezes cedi a seus encantos!

Impossível era não realizar o seu desejo...

Dissimulando esquecer de mim mesmo,
Revelei minha fraqueza e entreguei-me à volúpia.

Escuta então a minha prece:
Perdoa meu coração apaixonado!
Perdoa e sacia este meu coração!

A.C. 
Madureira, 28/10/2010

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