sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PERFUME DAS COISAS


As folhas deixam no ar o perfume 
 Preenchendo o vazio do nada, 
 Para adorar os amores, 
 Dar forças aos sentidos, 
 Tocando de leve a face carinhosa das cores. 
 O amargor desaparece, em segredo, 
 Fazendo surgir sorrisos, 
 Feito carícia cativante de um mar 
 Quando se encontra com a chuva. 
 É impossível que meus olhos esqueçam-se das flores! 
 Flores que desabrocham, lembrando-me seus lábios. 
 É momento de abraçar estrelas 
 E tê-las como se estivessem no chão. 
 Mas as horas vazias chegam 
 E novamente seus beijos, achando-me sozinho, 
 Invadem minha vida, 
 Transbordando-a de primavera. 
 A brisa da manhã cinzenta vem repleta de amores! 
 E meu pensamento undívago é agora pura paixão. 
 Semeio tons e semi-tons sobre o eterno outono, 
 Molhando melodias que nascem das árvores, 
 Num profundo sono que já vai distante. 
 O vento sopra somente para adornar 
 Aquilo que se achava perdido, sem pertencer a ninguém, 
 Descobrindo sonhos, cobrindo com seu cheiro bom 
 O que me resta agora de destino. 


_______ Acreis_____

 18/11/2010 Sta Cruz/RJ 

 Para Iolanda, com carinho.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TEUS BEIJOS

    

Teu rosto traz o calor dos meus passos, apressados,
Como se fossem eles, os passos, susurros.
É verde a esperança!
São sinceras as minhas palavras!
Tento afastar teu semblante de mim, mas não consigo...
Meus movimentos só me levam a ti.
Nosso romance começou há um dia,
Feito delírio que vai tomando o ser, gota por gota!
Mergulho então nos teus beijos,
Segurando-te pelos dedos,
Sem deixar tua vida vazia de mim.
A floresta que nos esconde
É o manto com que dormimos,
Basta tocar as nuvens
Que estarei tocando teus seios.
Meu delírio lembra os pássaros
Que voam para as janelas abertas de nossas almas!
                                                                                       

Acreis, 27/11/2010
P/ Iolanda, avec amour.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

NOITE

 mesmo bilhete escrito com tanta intensidade,
demasiada ternura encheu minha mente.
As batidas do meu coração são acompanhadas
por uma sensação de querer
ser o que não fui e passei a ser
através de seus lábios,
embora o coração não batesse rápido o bastante.

Tenho sonhado com escuro
e por estar tão perto e tão quente demais
acordo suando quase toda a água do corpo.

O ar fresco parece o paraíso
que a sacola fica leve
e um gosto de chocolate escapa de minha boca.
Olho o chão quase tropeçando
mas não deixo a esperança tão fechada
que não seja difícil de destrancar.

Ainda preciso falar com você,
é que estou sozinho faz muito tempo
e essa estupidez me surpreende
de não ter beijado você demasiadamente.

Há um gosto de terra em minha boca,
talvez seja por isso,
mas não quero que nada me denuncie...
Prometa só uma coisa:
fica aí parada que chego num instantinho...
Minhas mãos serão suaves,
meus beijos serão suaves e quentes,
mesmo com as noites quentes do deserto.

Acreis, 30/11/2010  Santa Cruz/RJ
Para Iolanda.                


terça-feira, 27 de novembro de 2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Comunhão


corro atrás de você chamando :
Espere, espere...
E um raio de luz, fragílimo,
Vem do pátio e faz seu rosto aparecer.
Ainda não sabe por que a chamo tanto,
Nem o prazer de contemplá-la dessa maneira.
- Quem é que te mandou?
- Foi sua irmã.
- Você gosta de mim?
- Mais do que de tudo!
E seu sorriso fica mais sério.
É quando você aproxima seu rosto
E oferece-me os lábios,
Num beijo inocente.
Seus braços, magros como dois palitos,
Enlaçam-me com força, sua cabeça pende sobre meus ombros,
apertando-me contra si, cada vez mais.
- E você, já sabe rezar?
- Há muito tempo!
"Senhor, perdoai o meu irmão, abençoai-o.
Perdoai o nosso pai e abençoai o nosso outro pai, amém."
E, afinal, que o diabo nos carregue, a todos!


acreis,01/03/2011-Madureira.rj

sábado, 24 de novembro de 2012

À Beça




Não sei rezar
Não sei pescar
Naõ sei fazer porra nenhuma


Eu sei dormir
Sei ficar à toa
Beber eu sei


Não vi nada
Nada vivi
E nada me interessa
Nem estes versos
Que me deixam tonto
À beça


Acreis, 01/03/2011, Madureira/RJ

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Querida

"Mas, por enquanto, não chores..."


Tu, querida, não conheces a vida.
És um anjo cheio de paixões.
Tua mãe, morta de parto,
quando ainda eras de berço,
foi infeliz por própria culpa.
- Débil felicidade imprecisa!
Lembro-me de ti ainda jovem:
Odiavas a leitura e só gostavas
de coser, tagarelar e rir...
Pegues para mim a espingarda
de calibre 24,
aquela que não dá coice,
porque vou à caça.
E quando me apetecer,
quando não tiver nada de melhor,
volto para teus braços.
Mas, por enquanto, não chores,
pois sou eu quem vai buscar a samarra,
logo que o calor diminuir,
já que talvez não estejas em casa.
Do pé da janela
contemplo teu rosto e espero a tua carícia prometida.
Sou feliz por sofrer
por tua causa,
e amo a tua dor
como sinal do amor
que tens por mim.

Acreis, 13/03/2011, Bangu/RJ

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jardim

Esmago flores que não vejo
errando pelo jardim
donde não me é permitido sair.
Trago comigo a febre
de um sarampo complicado
por uma catapora
que não tive na infância.
Você toma a minha mão e diz:
- Iremos para onde lhe agradar!
Sinto-me então criança dígna de lástima,
e choro pelas horas
abençoadas da minha juventude amorosa...
Não, esta noite não sofro,
pois voltarei atravessando as muralhas,
e, cedo ou tarde,
me lançarei contra seu peito,
e você saberá que não se entra assim
na vida de um homem.
O nosso amor é a única coisa
que vale a pena para nós neste momento,
neste minuto presente.
É doce repetir o seu nome
quando estamos ligados estreitamente pelo coração.
Basta o pensamento de que vivemos,
de que respiramos,
de adormecer à noite com a cabeça em seus braços,
e de acordar de manhã sobre o seu corpo jovem de bruma.
Ajoelho e deito minha boca em seu ventre,
e de repente tudo se endireita e floresce.

Acreis, 14/03/2011
Para Iolanda, minha.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A MENINA


Sortilégios em desenhos de serpentes fatais,
A menina então nada vê, a não ser a mãe afogada,
Abraçada ao travesseiro.
A ternura das páginas de um livro, não um qualquer,
Mas do livro de fotografias, que a menina lê
Em silêncio.
As cartas deixadas sobre a mesa
Estampam ideias de cigano,
Não de um qualquer,
Mas de um cigano peregrino.
A menina desperta cedo demais para o seu corpo.
A sua figura se afigura a um punhal, que,
Cedo ou tarde,
Virará cristal, na paisagem sem fumaça nem madrugadas,
Mas tomará formas de neve, lentamente.
As asas da menina trazem imagens de santos,
Que incutem nos espaços
Diferentes águas.
Toda a amargura do mundo,
Mas também toda a calma,
Chegarão num sopro,
Na bruma escura da agonia.
A menina, a sua imagem,
Caminha pelas veredas,
Buscando sons de flautas,
Espuma e areia.
Os frutos da tristeza, plantados por ela,
Vão invisíveis por sobre as montanhas,
Conforme aviões taciturnos,
Conforme a boca da noite
Que não cala esses versos.

 Acreis, 18/11/2010, Sta Cruz./RJ

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SENTIDOS


Amores, lábios, impossível não gostar...
Carícias, novamente lábios molhados de chuva para beijar.
Vem a primavera aberta de flores,
Tocando sementes, cativando as cores...

O pensamento é qualquer destino,
Mas que tenha o perfume de arrazadora paixão.
Olhos, sorrisos, folhas para folhear,
Ventos para soprar,
Abraços para adornar...

A floresta, enfim, descobrindo seu manto,
Permite que a brisa toque suas melodias,
Em tom poético, sem pertencer a ninguém,
Nem a quem está perdidamente sozinho, sem forças,
Como eu agora, em devaneios.

Visto a fantasia da alma, escondendo meu rosto,
Pintado com as cinzas, mostrando outra face,
Para repousar em delírios o romance
Escrito nos teclados.
Mesmo distante de mim, distanciando as palavras,
Deixo aos pássaros meus passos,
E volto a existir em qualquer flor,
Mergulhado nos movimentos amargos
De quem, talvez, nem queira adivinhar.

Agora as nuvens, em forma de seios,
Tornam-se para mim  enigmas,
Pois afastam qualquer sonho,
Elas, as nuvens, sempre vazias.
Os dedos das estrelas deixam fugir o lume,
E elas, as estrelas, sozinhas, não chegam ao chão.
Precisam de beijos, do cheiro de qualquer momento,
Para que, em segredo, desabrochem nos mares.


Acreis, 19/11/2010, Sta Cruz

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fugaz


Mal consigo escapar de seus braços
e caio, precipitadamente, neles,
como se recorresse aos tormentos do amor.
Na verdade, o amor nunca me poupou.
Amante ou amado, sou sempre infeliz.


O amor não cessa de me atormentar,
porque conheço o ardor das paixões,
e hoje, sob o domínio de seus olhos,
sofro novamente em seus braços,
à imagem do seu amor.


Em meio às suas torturas
lembro de minha vida escandalosa:
mulheres atirando-se sobre mim,
abraçando-me com efusão,
e, perturbado,
falo que a amo somente,
que estou apaixonado por você!


Acreis, 21/03/2011, Sta Cruz/RJ

domingo, 18 de novembro de 2012

IMAGENS DE UM SONHO


Coração cigano, feito de vidro, desenhado com feridas.
Coração desnudo, que busca nas cartas o derradeiro silêncio.
A noite, serena, chega, como se estivesse afogada.
Chega na ternura de menina, que trás na mão um punhal,
Com um jeito diferente, diferentes idéias, mas chega.
Escondo meu travesseiro, não deixo espaço na cama,
Fico só, com minha loucura.
A amargura do ser é soprada nas paisagens,
Na invisível melodia que vem antes da aurora.
Não tenho medo, mas temo o seu corpo agora,
Principalmente nesta madrugada sem neve.
O barco, à deriva, perde-se nas espumas,
Nos sons das flautas, música qualquer que ouço,
Para acabar de vez por toda com a tristeza.
É triste ser triste. É como ser areia sem imagem,
Que se perde, lentamente, sem formas.
A hora da agonia ainda não chegou,
Mas as asas das montanhas deixam fugir a fumaça,
Que se tranforma em pedra,
No meu ou em outro verso qualquer.
As fotografias de minha infância
Estão ainda escuras, coladas nas páginas, estampadas
Nos frutos, na profundeza da tarde,
Em alguns cristais,
Mas estão lá, nas veredas, feito figurinhas jogadas nas águas.
Serpentes, sortilégios, poesias,
Tudo dormindo em um ninho só,
Aguardando o despertar da manhã.

Acreis, 19/11/2010, Sta Cruz (em minha casa).

sábado, 17 de novembro de 2012

JOVEM MENINA


Toda a suavidade fascina
O que claramente dormia.
Ela, a menina no campo,
Graciosa e desafiadora, surge em imagem
Entre os cochichos das flores,
Para, na agonia das lágrimas,
Recordar todos os lamentos.
A lucidez resplandece todo o silêncio
Das mensagens, a menina então insiste em seduzir,
Pacientemente, o som de uma concha.
Acorda, então, estreitando as ventanias,
Ansiosa e sufocada, em um planeta cinza,
Selvagem, em sua memória surrealista.
A inocente jovem, que procura lembranças
Nos espelhos de seus olhos,
No vermelho de seu sangue,
Na estranheza de sua origem,
Suavemente mostra sua habilidade
De curandeira, quando, de forma estranha,
Delineia no céu os percalços da vida.

Acreis, 21/11/2010, Madureira

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

São efêmeras as horas




São efêmeras as horas,
as existências,
tudo que existe.
Se eu negasse o caráter afetuoso
do encanto das cartas,
com palavras escuras, montanhas,
teria medo.
O silêncio abraça os cristais
com vigor incomum,
avaliando o que se suspeita,
em um ninho de fumaça
que lentamente se manifesta imorredoura.
Em um barco, entre outros bens valiosos,
vão as minhas feridas,
estampadas em páginas,
como as madrugadas
com seus frutos invisíveis.
Sob todas as formas,
as tardes em que nascemos se afiguram
às imagens dos gestos, ideias,
ternuras e espaços serenos.
Meu olhar desenha o despertar
florescente da aurora,
na desnuda poesia musical,
para buscar o afeto
dos costumes íntimos,
incorporando um personagem desconhecido,
que representa um cigano afogado.

Acreis, 06/04/2011
Sta Cruz/RJ

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PRESENÇA


Teus gestos trazem à minha memória
Todos os personagens que já fui.
À época expressava meu amor por ti
Com muito mais bem-querença.
Éramos mais íntimos: tu valiosa; eu valioso.
Escrevo hoje como nunca, buscando
O antigo clima,
O antigo teor,
Fingindo aprimoramento...
Mas não há recíproca,
Nem de algo imaginado!
Ainda agora, para agrado pleno,
Eu penso assim:
Mais libidinagem, 
Desfrute do prazer,
Evocações da alma,
Para o íntimo esplendor...
Se eu negasse a existência da virtude,
A verdadeira virtude,
Incorporaria fenômenos imorredouros,
Insistiria no caráter aniquilador,
Revelaria a ausência da tua presença!
É por isso que careço em vincular-te sempre,
Mesmo sendo suspeito de estar sob teu encantamento.
Mesmo tentando afugentar o que sinto.
Mesmo querendo desconhecer o que conheci
No derradeiro aconchego,
Nas horas incomuns de nossos deleites.
Serás ainda bela e alegre?
Será que te adequaste ao novo amor?
Omito o que sei de mim,
Mesmo seguindo a vida com seus rituais,
Conduzindo a paixão avassaladora,
C
onsumida pelo sentimento cruel
Da  ausência tua.

Acreis, 20/11/2010, Sta Cruz

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

RESPLANDECER



Querida, a nossa viagem pelos campos será no tempo da flor.
E quero ver no seu rosto da primavera o frescor.
Orvalhos da madrugada chegam, mas você ainda dorme,
Graciosa, com apenas o lençol a seu corpo adornar.
Pássaros assoviam cochichos que trocamos ontem,
Pois existem coisas não ditas, e, para não ficarem perdidas,
Entram na lucidez dos meus sonhos.
Em todos os planetas que moramos, as cores nasciam em nossas janelas.
Amores lembrados em teclados cativavam-nos e nos pertenciam.
Instantes vividos em terras e mares, em todo lugar,
E por que não dizer em todo o delírio?
Sim! Conchas achadas n'areia formavam palavras serenas,
Enquanto seus lábios se ofereciam suavemente.
Mas, a indesejada chegou, e, como pastora, segurando seus braços,
Distanciou-nos tanto que da agonia do escuro nasceu o abismo.
Vazias ficaram as horas, e caídas no chão as estrelas,
Que não se deram conta ainda da inconvivência.
Os ventos trazem o seu perfume a meu pensamento,
Semeando lembranças de vozes suaves,
Das carícias nos dias de chuvas,
Dos beijos que davam arrepios...
Da primavera!
Não vivo mais em conflitos, nem em  florestas de argila,`
Pois encontrei as escadas e as portas do nosso possível romance.

Acreis, 22/11/2010, Sta Cruz (chez ma mère).
Para, sempre, Iolanda.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

MOMENTO



Espreito a primavera sozinho em folhas, em olhos, em sorrisos.
A paixão fascinante faz suave o linear das origens.
Meu sangue é romance incomum, que suavemente penetra o espelho da sua lembrança.
É ainda jovem, selvagem, e seus passos a distanciam de mim,
Porque é enigma, seios feitos de nuvens, no amargor do que tento adivinhar!
Seus movimentos, onde mergulho, desabrocham as cinzas do que fui,
A verdadeira face repousada na repulsa.
Ainda é segredo a sua tarefa inocente,
Mas sua memória nada tem de ansiedade para sufocar.
A ventania acorda a sua alma, fantasiada de poesia, de melodias, de brisa.
O manto que cobre seu corpo muito me magoa,
Mas a habilidade que, estranha, você é capaz de curar,
Constantemente deixa-me ver o suficiente.
Suas lágrimas desafiadoras claramente tocam o que flutua:
Meus dissabores capturados pelos seus carinhos descobrem árvores de amor.
Seu corpo molhado de febre torna-me mais paciente,
Pois imagens de sedução são mensagens avidamente desertas.
Tenho confiança em você, mas há limites, lapsos voadores que a tornaram imatura.
Suas nuances sempre martelaram o que sou, sedado na aparência,
Flutuante na escuridão... Respiração reconhecida por sussurros.
São verdes os sentidos... são vazios os perfumes...
A gota soprada no lume do outono traz o sono,
Abraçada, estremecida, sem forças, em conflito.
A recordação do lamento já é lucidez, não mais devaneios,
Nem trauma, nem vazia.
A recordação é desfolhada em sacrifícios de sua residência.
Resplandecida em silêncio, tem ainda capacidade de não cair em abismo,
Nem de guardar rancores, seja em qualquer linguagem.
Você se esconde na floresta, tomando forma de argila, descendo escadas,
No beijo que arrepia sob a chuva, na carícia de suaves vozes,
Que semeiam pensamentos nos perfumes.
A viagem para o campo ainda é flor,
É convivência no chão vazio do delírio.
Embora distante, o escuro traz a agonia da pastora,
Com suavidade nos lábios, nas palavras, nas conchas de outros delírios.
Os mares, nesse instante, cativam o que lhes pertence.
Sejam os teclados dos amores, sejam as cores nas janelas,
Sejam todos os planetas perdidos.
Existem cochichos de pássaros, que adornam a graciosa mulher que dormia.
Seus olhos orvalhados pelo calor do seu rosto
Fazem o impossível criar portas,
Vasculhando outros beijos,
Sentindo o afastar dos dedos, das estrelas, do cheiro, do sonhar.
Nesse momento, em segredo, a fogueira segue o seu destino.

Acreis, 22/11/2010   Sta Cruz.
Para Iolanda, somente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Presença Última

                                   "para o  último abraço da sua presença.
É verdade.
Quis aniquilar nossa amizade,
Mas a libidinagem não deu espaços.
A verdadeira paixão não é mais algo imaginado...
Eu penso assim: existe o amor que nos direciona,
Que faz a vontade se tornar recíproca,
Insistindo em ser autêntica,
Criando vínculo, sem exceção.
Reuni o que sempre omiti em fórmulas de bem-querença,
Atribuindo à fórmula expressa qualquer aconchego.
De fato, conduzo a virtude das coisas de modo a adequá-las
A sua presença, sempre bela e alegre.
Fenômeno forte é o sentimento, que traz o agrado pleno,
Que adere as virtudes em desfrute de prazer...
Incomuns e denominadas, que transitam, suportando a derradeira acuidade,
São as paixões!
Nos gestos obcenos de minha memória a virtude ainda é estimada..
Nem por isso careço em ordenar os percalços sem prudência.
Reivindicarei, de que maneira for, os caprichos da sorte,
Para desfrutar deleites e afugentar razões diversas.
Incorporarei o encantamento do esplendor,
Vincularei revelações,
Para o último abraço da sua presença.

Acreis, 23/11/2010, Sta Cruz/RJ
Para o meu amor, Iolanda.

domingo, 11 de novembro de 2012

VENHA ME VER O MAIS RÁPIDO QUE PUDER!


Somos intimamente ligados: corpo e alma,
Embora moremos em mundos diferentes
E falemos dialetos estranhos.
Nas cavernas foram escritos poemas de nosso amor
E me lembro dos seguintes trechos:
"Eu te amo em culto imoral..."
"O seu corpo vejo no céu, ao lado do sol,
Da lua, das estrelas e dos planetas..."
"Extraio do teu corpo o suor para a preparação de perfumes..."

Você é minha prisioneira de guerra,
Aquela que desde os tempos antigos
Foi a mais linda concubina.
Misturava na boca mirra e vinho,
Dando-me de beber,
Ungindo meu corpo com sua saliva.

A hora de amar já chegou,
Por isso persigo você à minha maneira,
Pois o meu propósito é tê-la para sempre em minha vida.
O meu amor é paciente, perseverante e sem sofrimento.
Você sabe tudo de mim,
E foi assim que aconteceu.
 

Acreis, 25/11/2010, Madureira/RJ
P/ Iolanda, com amor.

sábado, 10 de novembro de 2012

Primeiros Versos


Vejo você, entre álamos e carvalhos,
pela relva do parque.
Se você fosse água,
teria se estendido até o mar,
numa lisa maré azul.
Seu espírito é um líquido
que flui em redor das coisas
e as envolve completamente.
Nos quartos em que você já dormiu
portas e janelas fecham os olhos
como se estivessem sonhando
durante a sua ausência.
Foi em um vão de janela
que escrevi seus primeiros versos.
A sua poesia é rósea e amarela,
verde e cor de areia.
P'ra você abro meus braços
de Shakespeare,
contemplando-a sentada
em cadeira de rainha.
A lua então pára nas águas
e nada se move entre o céu e o mar.

Acreis, 03/05/2011
Sta Cruz/RJ

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

NÃO HÁ MAIS DESGOSTO NEM ILUSÕES


Ouço os cochichos das árvores,
de suas folhas,
que falam de chuvas,
sob o confuso vento que
as balança
p'ra lá e p'ra cá.
São livres as árvores
e seus murmúrios
percorrem o vasto mundo,
gentes desconhecidas as vêem
todos os dias,
em cada pedaço do planeta,
e esquecem-se facilmente de suas fraquezas.
Não há mais desgosto nem ilusões,
o que há são detalhes,
que se revelam inalterados
após uma longa viagem.
Deponho os milagres
como se fossem armas,
sob este silêncio verde-tímido
de um ambiente frágil,
que as lanternas da madrugada
lentamente despiram as roupas
de uma natureza quase morta.
Tenho certeza que meus cotovelos
superaram os pesares
deste amor platônico,
arquejando o que não é mais necessário.

Acreis, 10/05/2011
Sta Cruz/RJ

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Marinheiro Náufrago



Grandes rosas vermelhas
florescem nas paredes do meu quarto.
Tudo torna-se um cântico de alegria.
Estive morto e agora estou vivo.
As vozes dos pássaros,
que dialogam numa estranha harmonia,
tornam-se mais fortes
quando o sol fica mais quente.
Basta-me apenas abrir os olhos
para ver as flores vermelhas
crescerem agora através da minha carne.
Retiro a neve que cobre meu corpo
e caminho lentamente para o café mais próximo.
Não há música nem esmola.
Observo, com alegria,
uma folha tremendo ao sopro do ar.
Os mortos estavam ali, entre as orquídeas.
Uma mulher de cabelo branco veio vindo na minha direção.
Estava enlameada, mas não tinha feridas.
Ela então senta-se a meu lado e sorri.
Que horas são? Perguntou ela.
Um quarto para as doze.
O que é ser jovem?
A pobre moça estava completamente agoniada,
mas o que fazer se a gente se enamora
da mulher que encontra?
Ela não lê nada, não pensa nada, não sente nada.
Meu amor, você não mudou coisa alguma!

Acreis, para Iolanda, com amor.
Em 18/05/2011, Sta Cruz/RJ

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Canção no Peito


Ontem entrei naquela velha casa onde nós morávamos,
com um sorriso idiota no rosto e uma canção no peito.
Lembrei que eu ficava de pé a um canto da sala,
segurando uma taça de vinho
e esperando que você viesse até a mim
e que me beijasse
e que derrubasse um pouco da bebida em minha camisa.
Seus olhos castanhos,
seu nariz levemente arrebitado,
lábios sensuais,
um sorriso capaz de me deixar culpado de estupro...
Eu tinha 40 anos e você 28...
Mas era um adolescente e você mulher madura.
Pegava você no colo e a levava para cama.
E você falava no meu ouvido:
Estou simplesmente deliciada!
Naquele dia terminei de tomar banho às dez e meia...
E às onze e meia nosso mundo soçobrou.

Acreis, 18/05/2011, Sta Cruz/RJ
Para Iolanda, avec amour.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

CHÃO DE PEDRAS




Sua proeza de mulher agradável
decide engasgar,
deixando-a apavorada.
Finge ser brincadeira
e que sua atitude é provisória.
Porém, perante o tribunal do amor,
o seu adeus por mim vai copiando
o que já é vital acontecer.
Tenta não ser estranha,
aproxima-se e finge ter fome, desejos...
Semilouca, o que lhe resta de afeto
não tem espaço suficiente no seu peito,
que agora é chão de pedras.
Mesmo tentando em demasia
 retocar a maquiagem,
a mentira pincela sua face com
as cores verdadeiras.

Acreis, 23/05/2011
Sta Cruz/RJ

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Presssentimento do Beijo





Evitamos olhares,
defendemos a distância.
Tentamos preservar as aparências.
Meigamente, o amor vai se espraiando,
deixando-nos sem respiração.
Contente, você se mostra
numa pseudo escuridão.
A luz do dia não estranha
o recanto da caverna, e entra.
Novamente o amor não esconde o sorriso
e o pressentimento do beijo
é de tal maneira inevitável que,
ao menor deslize, acontece.
Por que adiamos o que nos era agradável
se nossos lábios trasnpiravam aceitação?


acreis, 23/05/201  ---    Sta Cruz

domingo, 4 de novembro de 2012

ANINHADOS


Não me acostumo
com o que não encaixa.
Tudo tem que ser preenchido.
Para se conviver de forma agradável
aceitamos desculpas, sempre.
Murmuros dizem verdades
em todos os encontros.
Acariciar é a forma
mais pequenina do afeto:
expressões da alma fatigada pelo tempo,
sob a intensa esperança de abraços.
É bom dormir sentindo desejos
e acordar suavemente,
sem vícios,
aproveitando exatamente
os tremores da paixão.

Acreis, 23/05/2011
Santa Cruz/RJ

sábado, 3 de novembro de 2012

Sou Eu Agora


Começo pelo fim.
E o fim, que parecia morte, é vida.
Eu tinha sido avisado.
Sou eu agora.
É estranho, mas faz sentido.
No início não conseguia encontrar
fluidez nem expressão.
Meu pensamento era meu corpo,
e cada reflexo que via, era eu.
Até a lucidez, aos poucos,
tomar o seu lugar...
A primeira lembrança, na verdade,
era a última.
O corpo recordava somente do fim.
A lembrança veio em cores nítidas,
desconcertantes para mim,
mas não para a memória.
Tinha medo.
Fugir, correr, era tudo que pensava:
-falhei.
Do que tinha conhecimento
trazia na memória,
não em mim.
Uma luz tênue, vindo não sei de onde,
brilhava na entrada de uma porta.
Não era o beco sem saída,
que temia e esperava.
Sobrevivi.
Talvez venci.
Não é tão rápido assim
passar pelo limite da morte...
Há dor em toda parte. Tudo é dor.
A dor é tudo.
Ninguém consegue fazer a dor parar,
assim, assim.
A escuridão passou a não ocupar tudo.
Aos poucos eu me via livre de mim,
do meu corpo.
Foram embora o frio e a dor,
e o próprio medo.
Tinha comigo uma lembrança
dentro de outra lembrança...
A escuridão havia sumido.
Sorri e estreitei meus olhos para o sol.
Agora sou eu.

Acreis, 24/05/2011
Madureira/RJ

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